26/03/2010

~~Maquinando Conceitos ilusórios.


    Samantha não acreditava no que ouvia. Ela sempre acreditou que enquanto existisse esperança havia um propósito maior que a movia. Nesse dia a menina se deu conta de que é proibido falar o nome da vida, e ela quase o disse... Ninguém pode falar daquilo que não conhece e só depois de perceber a profundidade que as palavras do Dr. Tic-Tac lhe atingiam ela enxergou que todos aqueles anos, não passavam de uma mera existência... O que fazer para viver e não mais somente existir? Em que acreditar para recuperar o tempo perdido?
_O senhor me citou a felicidade doutor e por alguns segundos eu acreditei que ela pudesse existir. Eu acreditei por que de alguma maneira as suas palavras me confortam; porém, com a mesma velocidade que me acalmam elas me machucam. Não consigo entender o que o senhor quer de mim, porque só de olhar dentro dos seus olhos algo congela aqui dentro! _ A menina falava com certa melancolia na voz e o Dr. Tic-Tac ainda mantinha o seu meio sorriso no canto da boca.
_Respire criança... Será que você não percebe que são as suas próprias angústias que lhe deixa tão desesperada? _ O Doutor desmanchou o sorrisinho irônico e olhou fundo dentro dos olhos da menina que também o encarava.
Ela acreditou por um momento que o doutor podia ler os seus pensamentos, olhando-a daquele jeito ele parecia poder ver até a sua alma, e isso a assustava, mas ela sentia tanto medo e tanta tristeza, que embora doesse olhar aqueles olhos miúdos era neles que ela se apoiava. Numa tranqüilidade que ela acreditava e teimava por dizer-se real.
_Eu posso respirar doutor. Isso nunca foi um problema para mim! _ Insistiu Samantha aparentemente mais calma.
_Sim, você pode respirar! E isso é o bastante? _ Ele não tirava os olhos dos dela. _ Por uma questão lógica, se você não respirasse, sufocaria até morrer. Eu não falo simplesmente do ato de encher os pulmões de ar, mas de trazer para dentro de você coisas boas que lhe farão bem e liberar por partes tudo o que pesa.
_Mais são as pessoas que me cobram um modelo de perfeição o qual eu não acredito ser possível de alcançar! E é isso que está pesando... A culpa é deles!
_Será mesmo Samantha? Será que as pessoas te cobram a perfeição ou seria você que deseja mostrar-se boa, capaz e a cada dia maior e melhor para aqueles que te vêem? Você tem tanto a aprender menina, tanta coisa tem que ser dita ainda...
_Então diga! _ A menina o desafiava como se ela tivesse uma certa razão ao se defender.
_Não adianta você tentar se mostrar forte quando na realidade eu sei que você se sente aos cacos... Não adianta eu tentar adiantar um assunto sem que ele tenha partido de você! Confesso que essa conversa está me decepcionando Samantha, eu imaginei que você acreditava em um propósito maior para a sua existência... Para que você começasse a viver.
Ao ouvir isso a menina não se conteve. Ele a disse exatamente o que ela havia pensado! Ela começou a sorrir freneticamente e o acusou:
_Você está lendo os meus pensamentos!
E pela primeira vez ela viu o doutor se alterar.
_Você não sabe o que fala! Você é apenas uma criança tola que diz lutar por uma coisa, a qual nem mesmo você acredita! Eu não tenho obrigação nenhuma com você, e não vou ser eu que vou tentar colocar algo dentro dessa sua cabeça dura. Você Samantha, veio até aqui alegando sentir medo de se tornar “um deles”, porém o que você não se deu conta foi que você é exatamente igual a todos os outros... Um fruto da hipocrisia e da frustrante desilusão. Eu não leio pensamentos... Isso é uma façanha, assim como a felicidade que eu ousei em um momento citar! Mas fique você sabendo que eu jamais poderei suprir as suas angústias ou medos e nem poderei ensinar você a não se nutrir do que te machuca.
Envergonhada a menina baixou os olhos e encarou o chão de terra embaixo dos seus pés. Ela sabia que o doutor tinha razão e sentia vergonha por tê-lo acusado de fazer uma coisa que ela sabia não ser possível.
_Perdoe-me... _ Falou quase sussurrando, ainda encarando o chão, os seus  próprios pés, fez-se novamente silêncio, então voltou a escultá-lo.
 _Não Samantha! _ Falou o doutor, porém no tom que a menina conhecia. Uma familiar voz, suave e penetrante. _Não me cabe fazê-lo... Você ainda não compreende, mas eu tenho paciência... Antes que eu desculpe ou não, você tem que se desculpar. Isso faz parte dos “pesos” que eu lhe falei.
_Eu... _Antes que a menina completasse a frase o doutor a interrompeu.
_Crie! Recrie se necessário! Acredite, ouse! Maquine!!! O cérebro é seu, uma maquininha que somente você pode controlar. Deixe que aleguem irracionalidade, ilusão ou loucura, mas antes de qualquer coisa acredite no que você criou. Saiba Samantha que nós só temos defesa quando conhecemos a fundo o que acreditamos. Uma pessoa pode acreditar que o céu é lilás e não azul como o vemos. Se você perguntar a essa pessoa por que o céu dela é lilás e não azul como foi determinado, ela só poderá argumentar e defender o que ela diz acreditar se ela aceitar que é capaz de enxergar aquilo realmente diferente dos outros e defenda o que ela acredita ser real mesmo que todos aleguem insanidade!

 

A Realidade do Irreal - Keilla Karollyne
Vou parar de postar coisas do meu livro, se não daqui a pouco todo mundo vai ter lido ele! kkkkkkkkkkk ;D

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