23/03/2010

~~Samantha.


“O que será que Deus pensa a respeito de nós humanos? Será que Ele se diverte com os nossos fracassos e frustrações? Por que, imagino que se não fosse por pura diversão Ele não nos testaria tanto assim.”
Ela sabia que dizia blasfêmias e tudo o que ela queria era permanecer dizendo-as. As palavras que Samantha dizia, quanto mais carregadas menos a machucavam, quanto mais blasfêmia falava melhor ela se sentia. O ser humano é inconstante e divertido... Por vezes até ignorante nos seus desejos. Samantha se sentia melhor em dizer tais absurdos porque só assim tinha a quem culpar e não se sentia tão mal, bastava-lhe permanecer revestindo a verdade com “responsáveis” inexistentes.
As horas se arrastavam e isso não era mais novidade. Sempre que a menina se sentia mal o dia só por teimosia parecia ser maior que os outros. Maior que qualquer vontade. Ela não ligava, aproveitava cada minuto, os olhos mantinham-se fixos no teto. Era acolhedor olhar para aquela “parede” em cima de sua cabeça? O que era acolhedor? O que era confortante?
Em nenhum momento ela desejou ser outra pessoa, mais responsável talvez... Isso estava fora de cogitação. Ela era grande o suficiente para cuidar de uma dúzia de flores, ou ao menos tentava acreditar nisso.
“Não foi falta de responsabilidade, inexperiência talvez...”.
Sim! Quanta inexperiência, quanta ignorância! Será que o jardim teria o mesmo final trágico se ela tivesse ouvido os conselhos que a sua mãe lhe dava ao pedir para ela deixar o jardim respirar enquanto se alimentava e se dedicava aos estudos? Tantas horas de dedicação haviam lhe presenteado com uma poça de lama bem na frente do seu portão. Quando as crianças insistem sem ser gente grande só para se sentirem independentes causam mais danos a elas próprias que a qualquer outra pessoa!
Parecia que o teto desejava lhe hipnotizar.
Samantha sentia-se sonolenta e exausta. Todo o seu corpo doía. O desejo de ficar deitada era imenso, pesava mais que uma tonelada, a dor era cortante e quente, não a consolava nem a consumia, só doía pesando sua respiração, entrecortando os seus pulmões, porém a menina sentia prazer na dor. “Eu a devo sentir, eu a mereço...”.
A ingênuidade é cruel às vezes. Quando se acredita que se merece sofrer, sofre-se calado e adimira-se o indesejável desejando-o. O desejo de se punir era tamanho que a dor era somente uma parcela de sofrimento.
Com os olhos pesados e inchados Samantha respirava devagar tentando não pensar em nada que pudesse lhe machucar mais. Se os dias não fossem tão longos, se as horas não se arrastassem tanto, se o teto não fosse tão sólido, se as flores não tivessem murchado se, se, se... Eram tantos “se” que as palavras pairavam em meio a eles.
A solidez do teto... Como uma pessoa poderia pensar em tal loucura? Mas é isso... A solidez do teto causava inveja à menina. Ela desejava ser mais forte, desejava suportar as coisas sem que se sofresse tantos abalos.
Depois de um tempo consideravelmente longo o sol se pôs. Samantha percebeu isso pelo reflexo de luz dourada atravessando a sua janela que aos poucos se dissipou. As paredes brancas nunca tinham se mostrado cinza... Nesse dia elas foram; na verdade elas foram de todas as cores que a menina pôde imaginar e elas nunca antes tinham sido tão frias.





A Realidade do Irreal - Keilla Karollyne.

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CertamenTerrado disse...

que textoo viajado *-* , lembra aqueles momentos da vida da gente que não cansamos de nos questionar e questionar o mundo! muito bom Keylla :)

 
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