03/01/2011

~~Cinco e tantas.

Enquanto exercia toda minha força naquela tampa que cabia perfeitamente dentro da minha mão e tentava desesperadamente abrir o pote de picles me passaram centenas de coisas na cabeça. Como por exemplo, estourá-lo no chão. Não gosto de estardalhaço, longe de mim, mas a cada minuto perdido a ideia parecia mais válida.
Desisti.
Coloquei o pote em um lugar qualquer da cozinha, ou foi na sala, nem sequer me lembro e caminhei até a janela.
O dia que cheirava a café torrado era pesado, tão quanto as nuvens acinzentadas que cobriam o azul do céu impossível de se ver as duas e quarenta e cinco.
Observei o jardim. As flores não se moviam nenhum milímetro. Estavam lá, olhando o céu feio que parecia fazer careta pra elas, tentava agredi-las e elas ou por muita doçura ou por zombaria não se moviam de maneira alguma, estavam intactas, intocadas.
Meu olho correu rápido pelo interior da casa como se procurasse por algo.
Não tinha o que se achar.
Voltei a olhar a rua.
 A rua nua estava lá, espalhada a minha frente. Como se estivesse extremamente acomodada à situação de dividir as casas, de servir de passarela para os transeuntes. Algumas rachaduras eram visíveis, lembravam-me rugas de uma velha carrancuda a muito esquecida dos prazeres da vida, mas não, ela estava firme em seu posto.
Nenhum pé de gente passara por lá durante toda a tarde. O céu deprimido ameaçava chorar a qualquer momento, o tempo abafado ajudava as casas a se manterem fechadas. Cada qual se mantinha em seu próprio conforto. Era a regra. E só.
O som que se ouvia era distante. Lembravam-me buzinas de carros. Talvez fosse, as cinco e tantas as pessoas certamente estavam voltando do trabalho pela avenida principal.
O pote de picles ainda esperava pela minha boa vontade, mas nem sequer sentia fome depois de presenciar tanta amargura em um só dia. Sentia a ausência dentro de mim, o querer doentio, o desejo de desejar de verdade, de alcançar além do que estava ao meu alcance.
Respirei fundo. Pude sentir o cinza do dia penetrar em meus pulmões. Era cortante, mas quente. Fechei a janela. Deslizei os pés pesados no chão da sala apertada até desabar no sofá mais próximo e me permitir ser.







Cheiro do dia: Sal.


6 Comentários:

Folhetim Cultural disse...

meu blog voltou com tudo acompanhe durante a semana noticiário cultural. Espero que goste. Me siga. Abraços boa semana.

informativofolhetimcultural.blogspot.com

Amanda Zulai disse...

aaah, como eu queria ter esse dom de escrever tão bem ç.ç haha você arrasa flor (:

Beijos.
http://diariodelooks.blogspot.com/

Danielly disse...

Oi lindona, ja tava com saudades <33
Bom to passando pra falar que eu voltei e pra te desejar um feliz 2011 *-*
Beeijos

Unknown disse...

Que tudo esse post!! Mas confesso que me sentiria entendiada por nada se mover e pelo céu ainda estar "feio"... :(

http://thaisacorrea.com/b/

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Tchau! :D

Juliana Skwara disse...

Amei seu post, fiquei super feliz de saber que somos "meio parecidas". É mto bom conhecer alguém assim, parecido com a gente que goste dos mesmos livros ou tenha os mesmos sonhos. Ah, vc pediu pra lembrar: o Selinho rs
Bjuuus e fica com deus

Amanda Pelúcio disse...

Voltei a postar! Fico feliz em ver que voce continua postando seus textos lindos.. Seria um pecado vc parar de escrever!

 
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