27/12/2009

~Consciência!

Bom, esse texto não é meu, os cérditos vão para o site da Parada Lésbica:
http://paradalesbica.com.br/
Mais eu acredito que vale a pena mostrá-lo aqui, embora quase ninguém veja.


Porque explicar ajuda.
Quem, por que e como?
Em outubro de 2007 foi lançada na Itália uma campanha publicitária, em forma de cartaz, que trazia a foto de um bebê recém-nascido com uma pulseirinha, típica daquelas de hospital, na qual dizia em letras maiúsculas: HOMOSSEXUAL. Escrita no cartaz da foto estava a frase: “A orientação sexual não é uma escolha”.
Bebe HomossexualA campanha gerou enorme polêmica e foi proibida de ser veiculada em várias regiões do país, grupos religiosos também organizaram protestos e foram decisivos para a censura da campanha.
A questão é que, gostem ou não, cada vez mais a ciência vê a homossexualidade como um traço biológico como outro qualquer, como o que faz a pessoa ser alta ou baixa, ter olhos escuros ou claros. E, assim como a altura final de uma pessoa, às vezes se passam muitos anos até que a pessoa se perceba homossexual.
Por que isso acontece? Porque não somos criados para a possibilidade de sermos homossexuais. Nossos pais, quando pensam em construir uma família, sonham com o menininho de azul ou com a menininha de rosa – nada na nossa conjuntura social e cultural aponta para a possibilidade daquele bebê ser homossexual. E tantos são! Desde o nascimento! E foi isso o que essa campanha italiana tentou mostrar.
À medida que vamos crescendo, no entanto, por conta do nosso contexto familiar e social, por tudo o que vão nos ensinando ou pelo que vamos percebendo do mundo à nossa volta, muitas vezes a nossa homossexualidade vai sendo ‘enterrada’ para o mais fundo do nosso ser – na maioria das vezes inconscientemente. Outras vezes, percebemos desde pequenos que somos diferentes do restante, mas percebemos também que nunca devemos deixar que alguém perceba isso.
E o que acontece é que chegamos à adolescência com um ‘estranhamento social’: nos sentimos diferentes da maioria das pessoas; muitas vezes nos sentimos ‘sem canto no mundo’, como se não nos encaixássemos em lugar algum, como se fôssemos um “ET” em nosso próprio planeta. E às vezes muito tempo se passa sem que saibamos por que nos sentimos assim.
E seja na pré-adolescência, seja na adolescência, seja no começo da juventude ou nos anos mais maduros, às vezes devagarzinho, ou às vezes como uma iluminação, descobrimos que somos, na verdade, homossexuais.
Essa descoberta, na maioria dos casos, assusta. Diversas vezes passamos a negar isso em nós porque sabemos que é algo não aceito, que é algo rejeitado pela família, sociedade e religião. Um conflito interno começa – e esse caminho é muitas vezes percorrido sozinha(o).
De acordo com a escritora e pesquisadora Edith Modesto em seu livro Mãe sempre sabe?: “A orientação sexual é um dos componentes da sexualidade humana. Essa orientação do desejo não é uma escolha e não é aprendida. A pessoa se percebe heterossexual, homossexual ou bissexual” (Pág. 56).
A questão é que os modelos heterossexuais estão em todo o nosso redor: dos outdoors, à televisão, em nossa casa e em nossa família, nos livros (inclusive infantis) e nos filmes. Ao passo que os modelos homossexuais são sempre clandestinos e/ou estereotipados – tido como errados e pecaminosos.
Então fica inculcado na mentalidade das pessoas que há algo de anormal nas pessoas que se interessam por outras do mesmo sexo, quando na verdade isso existe desde que o mundo é mundo justamente por ser algo natural, pertencente à natureza humana, um traço genético como tantos outros.
Uma confusão que há quando se define homossexualidade é o pensamento instantâneo em relação ao sexo: mulher transando com mulher, homem transando com homem. Mas ao simplificar grosseiramente assim os homossexuais, perde-se a grande essência que nos forma: na realidade, nos apaixonamos, nos encantamos, por pessoas do mesmo sexo.
Ao perceber-se isso, ao tomar-se conhecimento que na realidade o que está envolvido não é apenas desejo, mas sentimento, afeto, pode-se começar a entender que ser homossexual realmente não é uma escolha.
Homossexualidade e Família
A grande maioria dos homossexuais, ao começar o processo de se aceitar, tem como grande preocupação as suas famílias. Medo de decepcionar, medo de fazer os pais sofrerem, medo da rejeição, de perder o amor e apoio de suas famílias são questões que estão sempre presentes na mente dos homossexuais que ainda estão ‘no armário’. E os que estão ‘fora do armário’, talvez lutem por muitos e muitos anos para voltarem a ter uma relação afetuosa com suas famílias. Os conflitos infelizmente ainda são muitos e são reais.
Se se pudesse ter um ‘leitor de sentimentos’ para ver o que cada um de nós passa ao nos descobrirmos homossexuais, talvez as pessoas mais humanas perdessem seus preconceitos de forma quase instantânea. A questão é que não escolhemos: somos escolhidos.
Por quê? Quem há de saber? Hoje concordo com a frase que um homossexual masculino disse: “Querer saber por que eu sou gay é a mesma coisa de querer saber por que um limoeiro dá limões. Não precisa entender por que eu sou, apenas saber que eu sou.
O que eu penso? Eu penso que a sociedade como um todo tem uma visão muito limitada sobre se ser humano. Insistimos em nomear tudo, em definir, quando na verdade tudo o que realmente nos compõe é inominável, é indefinível.
Como definir o porquê de você gostar de amarelo e não de azul? Como definir o amor que você sente pela sua mãe? Que você sente pelo seu filho? Pela sua filha? Como definir a alegria que você sente quando vê alguém que ama sorrindo? Como definir o que te faz feliz? Como explicar o que te frustra ou te machuca? Não. Não há como simplificar as coisas quando se trata de seres humanos.
E os pais de homossexuais? Eles que foram ensinados desde pequenos que teriam filhos que um dia se casariam com mulheres e filhas que um dia se casariam com homens. Como explicar para eles que a existência humana não é tão simples assim? Como fazer com que eles olhem além do que a sociedade ensinou para eles? Como fazer com que eles enxerguem com os olhos do coração e vejam que ali à sua frente está a(o) sua(seu) filha(o), exatamente como ela(e) deveria ser? Que sua(seu) filha(o) não é agora um pessoa diferente só porque se assumiu homossexual, que sua(seu) filha(o) carrega os mesmos valores e ideais que sempre carregou?
Como mostrar para eles que amar um bebê, uma criança, é algo tão, tão fácil? E que o papel deles de pais tem que na realidade continuar crescendo junto com aquela(e) filha(o) que eles colocaram no mundo. Que a grande prova desses pais acontece, na realidade, quando tudo o que compõe aquela(e) filha(o) está amadurecido? Que amar a sua(seu) filha(o), é na verdade amar (a)o jovem ou a(o) adulta(o) em que aquele bebê se transformou?
Não é fácil. Somos acostumados a enxergar as coisas até certo limite: não ousamos ir além. E, claro, somos todos seres limitados: por nossas percepções, por nossas interpretações, por nossas crenças, por nosso sentir.
Mas o ideal seria que, mesmo que por um instante, ousássemos ver além. Se você, homossexual, percebesse que na realidade, o que te foi dado foi um presente: que se estamos aqui nesta vida para ter uma experiência do SER, que a ti foi dada toda uma conjuntura em que você tem todas as ferramentas para transformar e ser transformado, para sentir e para refletir, para aprender a ver além de rótulos, para entender o amor e colocar esse amor a vários tipos de testes. A ti foi dada a missão de ser único, de ser diferente, de ser alguém que tenta sempre entender a si próprio – e por isso mesmo, acaba entendendo tantos outros ao longo do caminho. E isso, por si só, te faz um dos seres mais belos que existem.
O ideal seria que, mesmo que por um instante, ousássemos ver além. Se você, pai e mãe de um(a) homossexual, percebesse que na realidade filhos são dados por um motivo e um motivo somente: para que você cresça enquanto ser humano. Se lembra o que você sentiu no primeiro dia em que você se tornou pai e mãe? Sim, que agora não era você que importava: era a sua filha, era o seu filho. Você, pai e mãe, naquele dia, aprendeu a maior lição que um ser humano pode aprender: A ENXERGAR O OUTRO. A ver além de você mesmo, a ver além de sua própria existência. Filhos são uma coisa e uma coisa apenas: veículos de transformação para seus pais. E é uma pena que alguns pais ao ver que os filhos vão seguindo caminhos diferentes dos que eles pais sonharam para seus filhos, sintam desgosto.
Por um minuto, pai e mãe, mesmo que como um exercício, tente enxergar além da profissão que você queria para a(o) sua(seu) filha(o); tente enxergar além do fato de sua(seu) filha(o) ser homossexual; tente enxergar além do fato dela(e) ter escolhido se casar com uma pessoa que você não aprova: tente ver sua(seu) filho como ser humano: que tipo de SER HUMANO ela(e) é? Que motivos a(o) fazem sorrir?
Porque é isso o que deve te dizer se você fez bem a sua missão de ser pai e mãe daquele ser. Se permita ser transformado pelos caminhos da(o) sua(seu) filha(o)! Se permita enxergar além. Acredite, teu Deus te deu seus filhos exatamente para isso: para que você fosse mais, para que você pudesse crescer e se transformar e enxergar além. Não é uma missão fácil, e nem é para qualquer um.
Ao fim de tudo, não é ser heterossexual ou homossexual o que nos define: o que nos define é que tipo de SER HUMANO nós somos. E isso é algo que deve ser constantemente lembrado por cada um de nós.

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Vyh Ferreira disse...

Esse foi o texto mais lindo que já li ='(

 
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