Todas as pessoas “normais” que conheço começam a contar histórias do começo, então, partindo dessa premissa, contarei a minha...
Nasci mulher. Junto a isso, nasceram todos os meus problemas.
Não pelo fato de ter nascido mulher, mas pelo fato de ter nascido. Ser mulher é na verdade uma desculpa para toda sensibilidade possível ter-se aflorado em mim.
Ser sensível.
Fato irreversível que já me custou poucas e boas.
Sensibilidade é bom, delicadeza também, mas quando você começa a partilhar (se não tomar completamente pra si) as dores alheias e ofensas infundadas não soa nada positivo.
Sempre fui de ouvir palavras de mau gosto. E não ouse JAMAIS achar que quero me fazer de coitadinha! Mas dando continuidade, sempre foi assim. Ouvir, engolir calada e depois chorar num canto escuro qualquer para que ninguém visse.
Nunca fui certinha, nunca fui à melhor aluna, nunca tive das melhores coisas, nunca participava das atividades extracurriculares, nunca fui boa em atributos físicos, NUNCA fui à imagem que sempre havia desejado alcançar. Embora, com o passar dos anos tenha me acostumado a SEMPRE ter sido o que não queria e ter começado a me gostar. A me moldar, e a ver uma imagem (já que não dava pra ser perfeita, fosse ao menos uma aceita) que eu gostava de vê. Uma imagem na qual eu me reconhecia. Reconhecia o que tinha dentro de mim, reconhecia ao menos parte do que eu gostaria de expressar.
Comecei a acreditar que embora as coisas não fossem como eu queria realmente, elas poderiam ser bem próximas e a partir daí comecei a me sentir mais segura e confiante. Coloquei na minha própria cabeça o seguinte: “se eu quero posso, eu sou capaz!” e sempre que parecia difícil demais eu repetia a frase mentalmente e seguia adiante.
E assim segui até os dias atuais. Matando um leão por dia como dizem por aí se necessário, com a bendita frase martelando minhas idéias.
Até que parei pra pensar se realmente posso.
Acho que não. Pensar que posso foi só uma das minhas artimanhas para cuidar e proteger um pouco a tal sensibilidade sempre tão crua e seguir em frente sem me arranhar muito no caminho. Mas acho que ainda sirvo de chacota. Acho que ainda sou piada em pequenas rodas de amigos, ainda sou a menina boba que dá bom dia, boa tarde, boa noite e favores só pelo simples fato de ser (e parecer) educada. Por mais que faça e diga, acho (sei) que ainda sou a menina que leva desaforo, palavras de mau gosto e serve de piada.
Servir apenas para servir aos outros. É bem típico.
E (mesmo não importando) não é bom manter sempre esse grito guardado, esse nó na garganta e desfilar por aí com um sorriso quebrado, porque é feio demonstrar tristeza para as pessoas. “Não é bonito ser triste”, não é! Não é bonito andar se lamentando, não é bonito chorar na frente das pessoas, isso é sinal de fraqueza. E nem é bonito demonstrar raiva ou frustração. Pessoas confusas não são pessoas confiáveis. Ninguém quer saber se você está realmente bem. A não ser, eu. Ensinaram-me a me importar, me preocupar e ouvir. Aqui estou.
O fato é que devo aceitar viver sempre bem perto da sombra de alguém.
O fato é que por mais que o tempo passe, quando você se sente insegura você segue insegura.
O fato é que acho que ainda sou a menina magricela que sempre era o alvo de piadas e ia chorar escondido dentro do banheiro da escola. Lembrando sempre de fechar bem a boca e os olhos. A boca, com as mãos bem apertadas para ninguém ouvir nenhum som e os olhos para imaginar uma realidade distante e inalcançável.
Sonhar sempre foi meu melhor atributo. Sempre será.
E o maior sonho qual era (e sempre foi)?
Ficar invisível.
Até hoje não consegui, mas espero com grande ansiedade... “se eu quero posso, eu sou capaz!” diante do sonho, eu repito.
Cheiro do dia: Insegurança. (Que mesmo sendo sentimento, cheira forte... Sinto de longe!)
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